"The Conversion of St. Augustine" Fra Angelico |
Interroguei a terra e tudo o que nela contém.
Ela me disse: "Não sou eu."
Interroguei o mar, os abismos e os seres que os povoam.
Responderam-me: "Não somos o teu Deus, procura outro."
Interroguei o vento e o ar com seus habitantes,
Disseram-me: “Anaxímenes se engana, eu não sou Deus”.
Interroguei o céu, o sol, a lua e as estrelas,
Disseram-me: “Nós também não somos o Deus que procuras”.
Perguntei então aos seres que estão à portas de minha carne:
“Desse Deus, que não sois vós, dizei-me alguma coisa”...
Então, com voz forte, exclamaram: “Foi Ele quem nos fez”.
Minha interrogação é minha reflexão interior.
A resposta deles é o lado externo.
Tornei-me, então, para mim mesmo
E disse-me a mim mesmo: “Quem és tu?”
E eu respondi: “Um homem, eis o que sou”.
Dois lados, porém se apresentam a mim:
Um externo, outro interno: corpo e alma.
Os dois me ajudaram a encontrar Deus.
De que os seres materiais não sejam deuses,
meu lado interno me instruiu pela experiência externa.
Soube, então, que nada do criado é Deus.
Capitando a Verdade interna, por meio dos sentidos,
a Verdade infalível me diz:
"O teu Deus não é o céu, nem a terra,
nenhuma substância material,
nem massa corporal.
Nada disso é feito para a tua alma.
Eu sou a Vida de tua vida!"
Por meio dos seres do universo,
subirei como por degraus
para chega Aquele que me fez.
Quando eu procuro a felicidade nos seres inferiores,
é a Ti que busco, meu Deus!
A vida de meu corpo é minha alma,
mas a vida de minha alma és Tu.
Tarde Te amei!
Beleza sempre nova e sempre antiga!
Tarde Te amei!
Estavas dentro de mim,
mas eu estava fora,
Eu te procurava fora quando me precipitava
sobre os seres externos,
belos às avessas,
as coisas belas que são criadas por Ti...
Estavas comigo e eu não estava contigo...
Chamaste, gritaste e feriste minha surdez.
Brilhaste com fulgores,
varreste minha cegueira,
exalaste Teu perfume,
respirei e fui ao teu encalço.
Saboreei-Te: tenho fome e sede.
Tocaste-me: inflamei-me pela paz que me deste.
Unido a Ti com todo o meu ser.
não haverá mais dor,nem fadiga.
Minha vida se encherá de Ti, ó Vida!
(Santo Agostinho)
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