MAULBERTSCH, Franz Anton. "The Last Supper" 1754 |
"Sabendo Jesus que chegara sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (Jo 13, 1).
Nosso Salvador, sabendo ter chegado a hora de partir deste mundo, antes de morrer por nós, quis deixar-nos a maior prova possível de seu amor. Foi precisamente este dom do Santíssimo Sacramento. Diz São Bernardino: "As provas de amor que se dão na hora da morte ficam mais firmemente na memória e se prezam mais". Daí o costume de os amigos, ao morrer, deixarem algum presente, uma peça de roupa, um anel, às pessoas que amaram na vida, como recordação de sua amizade.
— Mas vós, Jesus, partindo deste mundo, o que nos deixastes em memória de vosso amor? Não uma veste, um anel, mas o vosso corpo, o vosso sangue, a vossa alma, a vossa divindade, vós mesmo, todo, sem reservas. "Deu-se todo não reservando nada para si", diz São João Crisóstomo.
Neste dom da Eucaristia — diz o Concílio de Trento — Cristo quis derramar todas as riquezas do amor que reservava para os homens. Ele quis fazer esse presente aos homens precisamente na noite em que os homens lhe preparavam a morte. Como diz São Paulo: "Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e depois de dar graças, partiu-o e disse: esto é o meu corpo que é entregue por vós". Diz São Bernardino de Sena que Jesus Cristo, abrasado de amor por nós e não satisfeito de preparar-se para dar sua vida pela nossa salvação, foi constrangido pelo excesso de seu amor a fazer uma obra maior: dar-nos, como alimento, o seu próprio corpo.
Santo Tomás chama esse sacramento: "Sacramento de amor, prova de amor". Sacramento de amor, porque só o amor o levou a dar-se todo nele. Prova de amor para que nós, se alguma vez duvidarmos de seu amor, tenhamos neste sacramento uma prova. É como se nos dissesse o Redentor quando nos deixava este dom:
— Homens, se algum dia duvidarem de meu amor, eis que eu lhes deixo a mim mesmo neste sacramento. Com tal garantia na mão, não podem ter dúvidas de que eu os amo e os amo muito!
São Bernardo chama esse sacramento: "Amor dos amores". É que este dom compreende todos os outros que o Senhor nos fez: a criação, a redenção, o destino ao céu. A Eucaristia não é só garantia do amor de Jesus Cristo, mas é também garantia do paraíso que ele nos quer dar... "no qual, nos é dada a garantia da glória futura", diz a Igreja. Por isso São Felipe Neri não sabia chamar a Jesus Cristo na Eucaristia senão com o nome de "amor". Quando lhe foi levado o viático, ouviram-no exclamar: "Eis o meu amor, dai-me o meu amor!"
Santo Afonso Maria de LIGÓRIO. "A prática do Amor a Jesus Cristo"
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