Atendendo a um pedido da Irmã Teresa de Santo Agostinho, Santa Teresinha, no dia 31 de maio de 1897, compôs alguns versinhos, tão simples quanto deliciosos, que englobam quase tudo o sobre sua doutrina do abandono total nos braços do Pai do céu. Nessa poesia, o abandono aparece não como caminho para o amor, mas como “o fruto delicioso do”, já que quanto maior o amor, tanto maior o abandono da alma.
Existe nesta terra
Uma árvore maravilhosa
Sua raiz, oh, mistério!
Encontra-se lá nos céus...
Jamais sob sua sombra
Algo poderia ferir
Lá sem temer a tempestade
A gente pode repousar.
Dessa Árvore inefável
O Amor é o seu nome,
O seu fruto deleitável
Abandono ele se chama.
Esse fruto já nessa vida
Me dá a felicidade
Minha alma se alegra
Com seu divino odor.
Quando toco nesse fruto
Ele me parece um tesouro
Quando eu levo à minha boca
Ele é mais doce ainda.
Ele me dá neste mundo
Um oceano de paz
E nessa paz profunda
Eu repouso para sempre.
Só o Abandono me entrega
Nos Teus braços, ó Jesus.
É Ele que me faz viver
Da vida dos eleitos.
A Ti me abandono
Ó meu Esposo divino
E agora só ambiciono
O Teu olhar tão doce.
Eu quero sorrir para Ti
Dormindo sobre Teu coração
Quero ainda repetir
Que Te amo, ó Senhor!
Tal que a bonina
De cálice vermelho
Eu, uma florzinha,
Me abro para o sol.
Meu doce sol de vida
Ó meu amável Rei
É a divina Hóstia
Pequenina como eu...
E sua celeste chama
O luminoso raio
Faz nascer na minha’alma
O perfeito abandono.
Todas as criaturas
Podem me desprezar
Saberei sem murmúrios
Perto de Ti, superar.
E se Tu me desprezas,
Ó meu divino tesouro
Privada de Tuas carícias
Mesmo assim quero sorrir.
Em paz vou esperar
Doce Jesus, Tua volta
E jamais suspenderei
Os meus cânticos de amor.
Não, nada me inquieta
Nada pode me turbar
Mais alto que a cotovia
Minha alma sabe voar.
Por cima das nuvens
O céu é sempre azul
A gente toca as praias
Onde reina o bom Deus
Espero, em paz, a glória
Da celeste morada
Pois encontro no Cibório
O doce fruto do Amor!
(Santa Teresa de Lisieux)
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