CASTIGLIONE, Giovanni Benedetto “The Adoration of the Shepherds” 1659 |
Ao Nascimento de Jesus
A guardar vosso rebanho,
Eis que vos nasce um Cordeiro,
Filho de Deus soberano.
Vem pobre, vem desprezado,
Tratai logo de o guardar,
Porque o lobo o há de levar
Sem que o tenhamos gozado.
- Gil, dá-me aquele cajado,
Vou tê-lo nas mãos todo o ano,
Não se nos leve o Cordeiro:
Não Vês que é Deus Soberano?
Sinto-me todo aturdido
De gozo e pena. E pergunto:
- Se é Deus o que hoje é nascido,
Como pode ser defunto?
É que é homem e Deus, junto;
Governa o destino humano;
Olha que o nosso Cordeiro
Filho é de Deus Soberano.
Não sei para que é que o pedem,
Pois lhe dão depois tal guerra.
- Olha, Gil, melhor será
Que se torne à sua terra…
Mas se todo o bem encerra,
E apaga o pecado humano,
Já que é nascido, padeça.
Este Deus tão Soberano
Pouco te dói sua pena!
Tanto é certo que esquecemos
O que os outros por nós sofrem,
Se proveito recebemos!
Não Vês que um dia o teremos
Pastor do gênero humano?
Contudo é coisa tremenda
Que morra Deus Soberano.
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Hoje nos vem redimir
Um Zagal, nosso parente,
Gil, que é Deus Onipotente.
- Por isso nos há tirado
Da prisão de Satanás;
Mas é parente de Brás
E de Menga e de Vicente:
Porque é Deus Onipotente!
- Pois se é Deus, como é vencido
E morre crucificado?
- Não vês que mata o pecado,
Padecendo, Ele, inocente?
Gil, é Deus Onipotente!
Palavra! Que o vi nascido;
E a Mãe é linda Zagala,
- Pois se é Deus, como há querido
Estar com tão pobre gente?
- Não vês que Ele é Onipotente?
Deixa-te dessas perguntas,
Trajemos já de o servir.
E pois à morte que ir,
Morramos também, Vicente,
Pois é Deus Onipotente.
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Para a Natividade
Já Deus nos há dado
O amor: assim, pois,
Não há que temer,
Morramos os dois.
Seu Único Filho
O Pai nos envia:
Nasce hoje na lapa,
Da Virgem Maria.
O homem – que alegria!
É Deus: assim pois,
Não há que temer,
Morramos os dois.
- Olha vem, Vicente:
Que amor! E que brio!
Vem Deus, inocente,
A padecer frio;
Deixa o senhorio
Que tem; assim, pois,
Não há que temer,
Morramos os dois.
- Mas como, Pascoal,
Tem tanta franqueza,
Que veste saial,
Deixando riqueza?
Mais quer à pobreza!
Sigamo-lo pois:
Se já vem feito homem,
Morramos os dois.
Mas qual sua paga
Por tanta grandeza?
- Só grandes açoites
Com muita crueza.
- Que imensa tristeza
Teremos depois!
Ah! se isto é verdade,
Morramos os dois.
- Mas como se atrevem,
Sendo Onipotente?
- Será morto um dia
Por perversa gente.
- Se assim é, Vicente,
Furtemo-lo pois:
- Não vês que o deseja?
Morramos os dois!
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Ao nascimento do Menino Jesus
Galego, quem chama aí fora?
- São Anjos, à luz da aurora.
Grande rumor ouço ao longe
Que parece cantilena,
- Vamos ver, Brás, – que amanhece –
A Zagala tão serena.
Galego, quem chama aí fora?
- São Anjos, à luz da aurora.
Será do alcaide parente?
Ou quem é esta donzela?
- É filha do Eterno Padre
E reluz como uma estrela.
Galeno, quem chama aí fora?
- São Anjos, à luz da aurora.
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Nas poesias que tratam do nascimento do Menino Jesus, Santa Teresa figura os pastores (Gil, Vicente, Pascoal, Brás, Menga, etc.) falando entre si.
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