"Ao ver Maria chorar, e os judeus que a acompanhavam a
chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-Se". Maria chora,
choram os judeus, o próprio Cristo chora. Crês tu que sentem todos a mesma
tristeza? Maria, irmã do morto, chora porque não pôde conservar o seu irmão nem
afastar a morte; por mais que estivesse convencida da ressurreição, a perda do
seu único amparo e a ideia da sua cruel ausência, mais a tristeza da separação
inevitável, fazem-na desfazer-se em lágrimas que ela não consegue suster. Por
muito grande que seja a nossa fé, a implacável ideia da morte não pode deixar
de tocar-nos e transtornar-nos; por isso, choravam também os judeus, porque se
lembravam da sua condição mortal e desesperavam da eternidade. Nenhum mortal
pode deixar de chorar perante a morte. Mas qual destas tristezas foi a de
Cristo? Nenhuma? Então por que chora Aquele que dissera "Lázaro morreu,
[...] e Eu estou contente"? E eis que derrama lágrimas como os mortais
Aquele que, ao mesmo tempo, derrama sobre eles uma vez mais o Espírito que dá a
vida! Assim é o homem, irmãos, que tanto sob o efeito da alegria, como da
tristeza, desata em lágrimas. Cristo não chorou por causa da desolação da
morte, mas por causa da lembrança da alegria, Ele a cuja palavra, à Sua palavra,
ressuscitarão os mortos para a vida eterna (Jo 12, 48). Como podia Cristo
chorar por fraqueza humana, quando o Pai que está nos céus chora o filho
pródigo, não quando ele sai de casa, mas quando regressa (Lc 15, 20)? É por
isso que Ele permite que Lázaro morra, para que, ao ressuscitá-lo, se manifeste
a Sua glória; permitiu que o Seu amigo descesse à mansão dos mortos para que
Deus aparecesse e o resgatasse dos infernos.
São Pedro Crisólogo (406-450) - Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
Imagem: "Marta aos pés de Cristo" FROMENT, Nicolas
Fonte: Mosaico
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